domingo, 21 de dezembro de 2014

A Oeste Nada de Novo

Título: A Oeste Nada de Novo
Autor: Erich Maria Remarque
Editora: Saída de Emergência

Sinopse:
Nas trincheiras, os rapazes começam a tombar em combate um a um... Em 1914, um professor chauvinista leva uma turma de estudantes alemães - jovens e idealistas - a alistar-se para a «guerra gloriosa». Todos se alistam, movidos pelo ardor e pelo patriotismo próprios da juventude. Porém, o seu desencanto começa durante a recruta brutal. Mais tarde, ao embarcarem no comboio de campanha que os levará à frente de combate, vêem com os próprios olhos as feridas terríveis sofridas na linha da frente... É o seu primeiro vislumbre da realidade da guerra.

Opinião:
A Segunda Guerra Mundial foi e ainda é extremamente fértil na produção de filmes, livros, séries, documentários... Já em relação à Primeira Guerra, o material é bastante menos escasso, pelo menos, aquele que sobreviveu até aos nossos dias. "A Oeste Nada de Novo" é um cujo título ainda desperta alguma familiaridade e é tido por vários como o melhor romance da Primeira Guerra.
A Guerra é contada na primeira pessoa. O soldado que acompanhamos é praticamente anónimo (apesar de lhe conhecermos o nome) e bem que poderia ser qualquer um de nós. Nos capítulos mais intensos, somos de tal forma transportados para as trincheiras que até se sente o cheiro a terra húmida e sangue. Sente-se o medo primitivo e a coragem de quem vê a própria vida prestes a ser-lhe arrancada. Não há qualquer preocupação em descrever o contexto sócio-político por trás da guerra, ou em perceber quais as motivações de cada uma das nações beligerantes, ou a perceber quem são os "bons" e os "maus". Não há descrições de grandes movimentações tácticas, porque não há qualquer táctica quando se está enterrado até ao pescoço, munido de umas granadas e uma baioneta. Só há espaço para o mais simples instinto de sobrevivência. Os soldados não lutam por ideais, lutam apenas para viver mais um dia e talvez chegar à próxima licença. Ou, com alguma sorte, para voltar a casa com um par de muletas.
À medida que os anos passam, estes soldados de 16 anos são despojados de toda a inocência, de toda a alegria e dificilmente terão um lugar na sociedade que sobrar no fim da interminável guerra.
É a guerra despida de Generais e de grandes ideais políticas. É a verdadeira luta pela sobrevivência, daqueles que não percebem como tudo começou nem como poderá eventualmente acabar.
Brutalmente honesto, cru, uma viagem na primeira pessoa ao buraco mais negro que a Humanidade já cavou.

O livro é bastante fragmentado, sem um verdadeiro fio condutor que una os vários episódios, e estes não obedecem a nenhuma cronologia em particular. Depois de o ler, compreendi a dificuldade que seria passá-lo para o Grande Ecrã e fiquei um pouco apreensivo antes de me aventurar no filme, vencedor do Óscar de Melhor Filme em 1930.
O argumento foi adaptado para que a acção levasse um rumo mais definido, desde a motivação juvenil que levou tantos jovens a alistarem-se, até ao desencanto de lutar num conflito interminável em condições sub-humanas. Apesar dos cortes de alguns episódios, foram mantidos quase todos e o espírito do romance está bem patente no filme. Alguns acrescentos já me fizeram torcer o nariz, mas é Hollywood, não se esperava outra coisa...
Não é um filme de grandes performances. Houve maior preocupação em que os soldados fossem efectivamente rapazes na adolescência, do que actores conhecidos a fazerem-se passar por jovens com metade da idade.
Com todas as limitações técnicas da altura, a recriação dos cenários e de várias batalhas é bastante credível, proporcionando uma experiência envolvente, ajudada pela sonografia e cinematografia bem acima da média da altura.
Dada a exigência técnica a que nos habituamos nos dias que correm, dificilmente este filme aguentará a passagem do tempo, mas a adaptação mais recente (de 1979), não parece fazer jus à qualidade do filme. Assim, aconselho que se deixem ficar com estes dois clássicos que bem merecem algumas horas das nossas vidas.


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